MINHA EMOÇÃO NA PARADA GAY

Emocionei-me ao olhar de cima do trio elétrico a multidão frenética e em algazarra que se comprimia na rua durante a sétima edição da Parada LGBT de Porto Velho. Era uma multidão incalculável. Héteros masculinos e femininos celebravam com a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, algo que nem eles mesmo sabiam o que era. Mas, eu com o meu olhar humorado sabia perfeitamente. Eles inconscientemente celebravam a alegria. Alegria daquele momento onde não havia oprimido e nem opressor. Ali havia gente que ama gente. Todos comungavam de um momento especial de paz e aceitação em um território neutro. Esse sentimento de euforia e prazer flui de nós quando nos despimos de nossos preconceitos e nos igualamos ao todo.

Meu olhar percorreu a multidão e fitou uma travesti em particular, que trajava uma roupa modesta com um pequeno acessório com as cores do arco-íris. Tinha um trejeito feminino muito exagerado. Sua aparência sofrida dava para deduzir que se tratava de uma dessas travestis que faz ponto à noite e passa o dia dormindo em algum quartinho de "estância". Que tem como profissão de sobrevivência a prostituição. Mas, apesar de sua humildade e de ser uma das principais vítimas da discriminação e exclusão social, naquele momento o sofrimento era esquecido. Ela sorria e pousava com outros gays e travestis para os flashs dos paparazzos dos sites da internet. Andava de cabeça erguida entre a multidão sem nenhum receio ou medo. Aquele dia era dela. O espaço era seu. Observei sua satisfação de dançar ao som da música "I will survive", da Gloria Gaynor. Sua auto-estima estava elevada. Por alguns instantes fiquei a pensar como aquela criatura estava feliz e senti-me gratificado por todo o trabalho que me expus a fazer para a visibilidade de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais durante estes anos todos em que estive militando no movimento LGBT de Rondônia. Até esqueci que, apesar de estarmos na sétima edição da parada, nada mudou para o segmento LGBT em termos de políticas públicas na esfera estadual e municipal. Que continuamos a fazer à somatória dos assassinatos de dezenas de companheiros que a vida é ceifada de forma brutal e violenta simplesmente pelo fato de ser diferente, de ser homossexual ou travesti ou lésbica. Mas à luta continua...