Travesti denuncia agressão
de PMs em Roraima
Rebeka Tavares
Policiais militares estão sendo acusados de agredir uma travesti. O caso foi denunciado no Ministério Público do Estado, Corregedoria do Comando-Geral da Polícia Militar e na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A denúncia foi formalizada pela vítima, identificada como Rebecka Tavares, e pelo Grupo Diverrsidade.
Em relato do caso, Rebecka contou que no final de semana estava na vila de Campos Novos, no Município de Iracema. A notícia de que o governador Anchieta Júnior tinha sido cassado e que o segundo colocado no pleito, Neudo Campos, assumiria o cargo deixou o lugar em festa, conforme ela.
Com um grupo de amigos Rebecka foi para um bar onde ocorreu uma briga que resultou no esfaqueamento de uma pessoa. “Todos saíram correndo e assustados. A dona do bar começou a cobrar as cervejas e recolher as cadeiras e mesas quando chegaram dois policiais, um homem e uma mulher, embriagados, sem farda e armados”, disse.
Eles teriam anunciado que eram policiais e queriam saber quem tinha esfaqueado o homem. Segundo a envolvida, como ninguém respondeu, os militares começaram a querer obrigar as pessoas a apontarem o responsável pela agressão.
“Eles logo vieram em minha direção e perguntaram para mim e meus amigos, mas nós respondemos que não sabíamos. Não contente, ele veio nos agredir e eu disse que ninguém sabia e que era função da polícia investigar. Devido a minha resposta, ele me agrediu com socos e tapas, mas eu estava com um copo de vidro na mão e, em meio à agressão do policial, me protegi. O copo pegou na cabeça do suposto policial e machucou”, relembrou Rebecka.
Com o golpe na cabeça, o policial mandou que Rebecka deitasse no chão, o que foi acatado por ela. A travesti disse que por cerca de 10 minutos ficou sob a mira do revólver do policial e imobilizada no chão pelos joelhos do militar enquanto a outra policial buscava algemas.
“Descontente com a atitude do policial, as pessoas presentes começaram a falar pra que ele me soltasse e que eu não tinha feito nada. Diziam para ele ir atrás da pessoa que tinha esfaqueado o cara. Mesmo assim ele não deu ouvido às pessoas e ficou apontando a arma tanto para mim como para as demais pessoas que estavam presentes no bar”, contou.
Algemada, Rebecka foi levada para a delegacia. Ela relata que as pessoas foram acompanhando a ação do policial para ver o que iria acontecer. Com intuito de dispersar as pessoas, a travesti contou que o militar disparou três tiros.
“Todos ficaram parados vendo a loucura do policial que começou a dizer para mim: ‘corre veado’. Segurando meus braços, ele me deu duas coronhadas, uma na testa e outra nos olhos. Na delegacia, o policial me deu mais cacetadas e uma delas quebrou meu nariz. Só depois que viu muito sangue foi que ele parou”, narrou Rebecka.
A travesti ficou de 2h às 8h da manhã detida, sendo torturado com a algema apertada, segundo denunciou. Rebecka denunciou que foi colocada uma “trouxinha” de maconha em sua bolsa “para a acusar de uso e venda de drogas naquele município”.
Os policiais apresentaram Rebecka na delegacia do Município de Mucajaí. No local, ela conta que ficou nua detida com mais dois homens. No mesmo dia, ela informou que foi ouvida e liberada.
O caso foi registrado em vários órgãos que atuam na defesa dos direitos humanos. Rebecka Tavares acredita que haverá justiça para o ato julgado como discriminação a sua orientação sexual. “Fico na torcida e espero que me recupere logo, pois no fundo ficamos com medo vendo tantas atrocidades”, destacou.
MPRR/PM – O Ministério Público de Roraima (MPRR) informou que o caso está sendo apurado pela 3ª Criminal, que já requisitou da Corregedoria da Polícia Militar apuração dos fatos com urgência. Somente após o resultado é que as medidas serão tomadas.
O comandante da PM, coronel Gleysson Vitória, disse que a Corregedoria já iniciou o trabalho de apuração do caso. Os policiais envolvidos estão sendo ouvidos. “Vou esperar o relatório para pedir que seja aberta uma sindicância para apurar o que aconteceu e tomar as providências disciplinares cabíveis. Vamos apurar com rigor”, enfatizou.
Fonte: Folha de Boa Vista
2 comentários:
Veja só o que o preconceito gera. Essa é uma realidade da qual não podemos correr. Somos vítimas e sociedade ao mesmo tempo. É preciso mais empenho na luta em favor da aprovação do PLC 122. Do contrário, vamos sempre ver rostos tintos de sangue em lugar de sorrisos largos de felicidade. Essa é a nossa luta, Hélio, precisamos continuar gritando por meio de nossos blogs e outros instrumentos de mídia a que tivermos acesso. Estou de olho e sempre alerta para todas essas questões. Estou também apostos para a luta em favor de dias melhores para nossa comunidade LGBT. Parabéns pelo dinamismo de seu blog.
"Jesus, perdoe esses policiais homofóbicos!"
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